
Artigo de opinião – O BRT no campus de Gualtar [das suas oportunidades e condicionantes]
Maria Manuel Oliveira, André Fontes e Ivo Oliveira - Arquitetos e Docentes da Escola de Arquitetura, Arte e Design da Universidade do Minho ⠿ 18-06-2025 17:00
No passado dia 7 de maio, na sessão Reitor à conversa com a Comunidade Académica: O BRT e o campus de Gualtar, foram conhecidos os principais momentos do processo que culminou com um entendimento entre a UM e a TUB/CMB relativo ao traçado do BRT entre a rotunda da universidade e o hospital, o tramo que servirá — e também afetará, inexoravelmente — o Campus de Gualtar.
Esse traçado desenvolve-se no perímetro sul e nascente do campus, entrando no seu espaço a nordeste e ascendendo à cota do hospital através da colina florestada localizada nas traseiras do edifício 10 e da cantina. Foi, assim, ultrapassada a solução TUB/CMB inicialmente proposta, que previa o atravessamento da área verde central do campus e cujos problemas detalhámos em artigo publicado no Diário do Minho a 16 de abril. Consideramos que o atravessamento desse espaço fortemente inclinado (obrigando a significativos taludes), associado a um serviço com elevada frequência, não só constituiria uma barreira cujo impacto obsta a princípios de fruição pedonal e vida coletiva que a universidade deve perseguir — e que encontra (ou encontrará, quando devidamente tratada) naquela extensa e preciosa área livre o seu incontestável coração —, como significaria uma inaceitável perturbação do funcionamento dos edifícios próximos da passagem do BRT. Por outro lado, o traçado acordado aumenta de 2 para 3 o número de paragens que servem o campus (a sul, nascente e norte), sendo que todos os edifícios ficarão dentro do raio de 400 metros de uma delas, o que constitui um pretexto indeclinável para a universidade iniciar o processo de qualificação do espaço pedonal e redução do impacto automóvel no campus que há tanto tempo se exige. Simultaneamente, este percurso aproxima o serviço BRT da população de Gualtar, amplificando o seu propósito público.
Embora positivo, o entendimento alcançado entre a UM e a TUB/CMB carece de aprofundamento: Importa que no perímetro sul e nascente, ao longo da rua da Estrada Nova e rua da Universidade, a inserção do canal BRT não afete a área da UM, uma vez que se poderá realizar no domínio público e estender-se, se necessário, ao terreno localizado a sul, para o qual está prevista uma intervenção urbana de grande dimensão. Neste perímetro, o novo perfil deverá regular o transporte individual, privilegiando o transporte coletivo e o espaço pedonal. A inserção do BRT deverá, também, conduzir à revisão da área que hoje assegura o — caótico e cada vez menos tolerável — acesso motorizado e pedonal à universidade, impondo-se o seu redesenho.
Por seu turno, a norte, no atravessamento da colina, e contrariando a proposta agora apresentada pelos TUB, o traçado não pode ser uma linha reta entre a rua da Universidade e o hospital, dividindo ao meio o espaço florestado e obrigando a violentos taludes com consequências inaceitáveis. O percurso a adotar deverá ser cuidadosamente estudado, acompanhando a morfologia do terreno e tendo em atenção o património vegetal existente. Inspirando-se na solução recentemente implementada no ramal da Lousã, este troço deverá considerar uma via única com semaforização nas extremidades, assim adotando uma implantação com menor impacto topográfico e arbóreo e permitindo atravessamentos pedonais de nível. Na colina, a presença do BRT deverá ser encarada como uma oportunidade para a requalificação do seu coberto vegetal e para a introdução de percursos e usos que inscrevam esse espaço na vida coletiva da universidade. Nesse sentido, mostra-se imprescindível a elaboração de um projeto de arquitetura paisagista em que a universidade, enquanto dono da propriedade trespassada, tenha a palavra definitiva, assegurando a qualidade do desenho urbano-paisagístico (a qual, se entregue sem efetivo controle ao modelo previsto de contratação pública de conceção-construção, não pode ser dada como garantida).
Reconhecendo a importância do BRT para a fluidez da relação da academia com a cidade, da governação da UM espera-se que a encare como uma oportunidade para incrementar a qualidade espacial do campus e a adequada articulação com os espaços e infraestruturas com que diretamente se relaciona, promovendo as condições ambientais a que todos aspiramos e devemos exigir.
Atualizado a 18-06-2025 17:00